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Saúde mental e emocional nas organizações

Postado em 11/24/2021 11:30:14 AM

Saúde mental

No contexto da pandemia, temos visto com muita frequência programas organizacionais voltados às iniciativas para impulsionar a saúde mental, o autoconhecimento do colaborador, práticas de meditação, yoga, programas de assistência psicológica, pesquisas para acompanhar o estado de humor dos colaboradores, palestras online com especialistas, ações de conscientização e desenvolvimento de habilidades focadas em lidar melhor com o momento presente (inteligência emocional, gestão do tempo, prioridades, produtividade, ambiente online, etc)

Por outro lado, temos visto pouco questionamento e ações considerando as longas jornadas de trabalho em função da pandemia:

  • a necessidade de flexibilização destas jornadas em função da tripla jornada da rotina atual (casa-trabalho-filhos, tudo, ao mesmo tempo, agora);
  • a busca por equilibrar volume de trabalho x pessoas/recursos disponíveis;
  • prazos de entrega/volume de metas viáveis considerando o contexto atual;
  • práticas concretas que promovam diálogo;
  • acolhimento e escuta entre lideranças e times (instaurar ferramentas online não é suficiente, é preciso rever as abordagens);
  • iniciativas robustas para diminuição do excesso de reuniões.

Ou seja, existem aspectos no contexto, na cultura organizacional, nas formas de trabalhar que precisam ser revistos, como parte da gestão da saúde mental e emocional nas organizações.

É claro que ter autoconsciência de suas emoções e aprender a lidar com elas é importante, desenvolver certas habilidades que facilitam navegar no contexto atual também contribui muito. Mas há outras questões a serem consideradas.

Importante cuidar para não alimentar uma gestão e uma narrativa que promovam ações específicas de bem estar como solução única no contexto pandêmico para lidar com a ansiedade, estresse, incerteza, medo, solidão acentuados pelo cenário atual.

Rever quantidade de trabalho, metas, recursos, prazos, empreender jornadas flexíveis, bem como iniciativas voltadas ao diálogo, acolhimento e escuta entre lideranças e times precisam ser igualmente priorizados.

Incentivar o colaborador na gestão das suas emoções, no desenvolver de sua autoconsciência, fortalecendo habilidades críticas para lidar melhor com o momento devem estar em consonância com todas as outras questões práticas do dia a dia que possibilitam formas de trabalhar que humanizam o ambiente do trabalho e potencializam engajamento, sentimento de realização e pertencimento das pessoas.

Nosso desafio é empreender uma postura sustentável para assegurar os resultados da empresa e, ao mesmo tempo, um ambiente de trabalho equilibrado sob as perspectivas acima colocadas. Essa busca talvez demande que as empresas revejam suas expectativas em termos de lucro.

Ganhar mais dinheiro não pode ser a principal meta. A lógica capitalista também necessita novos olhares, estamos ganhando, cada vez mais, consciência sobre isso. Dentre outras questões, o abismo social que a pandemia escancara também aponta para isso.

Talvez não tenhamos um caminho convencional se realmente o propósito for trilhar uma jornada mais sustentável sob a perspectiva financeira, mas também, a humana.

Além de olhar para a complexa questão das condições de trabalho oferecidas, também precisamos cuidar para não alimentar a narrativa de que “dar conta de si” e das suas próprias emoções, ser resiliente, buscar superação, motivação, habilidades de gestão de tempo, isoladamente, trarão a solução.

Isso apenas potencializa ainda mais a frustração e a sensação eterna de insuficiência por parte dos seres humanos que trabalham nas organizações.

Desenvolver todas estas habilidades, somente, não vai dar conta de lidar com os desafios atuais e futuros. É apenas uma face da questão.

Há a contrapartida de se repensar volume de trabalho, metas, recursos, prazos, jornadas, e tudo o que foi posto anteriormente.

Antes da pandemia, sinto que nos orgulhávamos em oferecer as piscinas de bolinha, mesa de bilhar, etc. Nada contra isso. Nem contra as ações de meditação, apoio psicológico e palestras sobre temáticas correlatas ao bem estar que queremos estimular no momento atual. Pelo contrário.

Mas do mesmo jeito que a piscina de bolinhas talvez não fosse suficiente naquele contexto, ações pontuais de bem estar também não serão agora.

Não podemos correr o risco de esvaziar a amplitude que o tema de saúde emocional e mental nas organizações possui. A reflexão é para que possamos ir além, buscando um olhar sistêmico para estas questões.

Uma abordagem na qual possamos fazer perguntas cada vez mais profundas sobre as estruturas/metas/prioridades, sobre as formas de trabalhar e sobre comportamentos que influenciam a nossa maneira de liderar e buscar soluções que alcancem a complexidade que o tema envolve.

Abraçar esta complexidade e compreender que este tema exige uma abordagem ampliada e multidisciplinar nos ajudará a mover com a consistência, consciência e coerência que a temática e que o momento exigem.

Referências:

Tema urgente nas empresas, saúde mental será discutida por especialistas nesta quinta em live do jornal ‘Valor Econômico’

O ‘mindfulness’ corporativo não aumenta salário nem traz horas livres, ele só arruína o seu trabalho

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