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Comunicação Corporativa: um olhar estratégico – Fernanda Marques

Postado em 10/31/2022 4:28:07 PM

Fernanda Marques

Na entrevista ping-pong deste mês falamos com a Fernanda Marques, gerente de comunicação corporativa da Mondelez International, sobre um olhar estratégico que deve ser voltado para a comunicação corporativa, confira:

Simplifica.CI – Quais os principais aprendizados na sua jornada com a comunicação corporativa?

Fernanda Marques – Que somos parte fundamental do negócio e da gestão das organizações. A área de comunicação corporativa é muito mais do que apenas a comunicação por si só.

É uma área estratégica, também analítica e essencial na missão de auxiliar no desenho de soluções, a facilitar os caminhos a promover o entendimento, identificar as barreiras e potenciais crises, criar significado, ser parte ativa da gestão da reputação e da imagem das empresas.

Simplifica.CI – Qual é o papel da comunicação interna nas empresas? Como ele vem se transformando ao longo dos anos?

Fernanda Marques – A área de Comunicação Interna vem ganhando cada vez mais relevância e passou a ocupar um lugar na estratégia.

As empresas que têm investido em Comunicação certamente alcançam resultados melhores nos objetivos do negócio, na atração e retenção de talentos, na cultura da organização.

Quando iniciei minha jornada na Comunicação corporativa nos anos 2000 éramos conhecidos como a área que fazia o “jornalzinho”, atualizava o mural ou organizava eventos.

Hoje lideramos e contribuímos com o engajamento dos funcionários, participamos das decisões estratégicas para impulsionar a cultura desde a definição das ações, execução dos principais ritos, na preparação, orientação e assessoria junto as lideranças.

Na idealização e recomendação de capacitações, auscultação interna, análise de cenários e tendências, além da gestão de canais de comunicação interna.

Lideramos muitos projetos relevantes, acredito que somos uma das áreas mais transversais das organizações.

Simplifica.CI – Qual o papel dos canais de comunicação na comunicação interna, considerando o novo contexto do trabalho híbrido ou remoto?

Fernanda Marques – Os canais são fundamentais para auxiliar na comunicação assíncrona, deixando disponível conteúdo de diversos temas de interesse da organização e dos empregados.

É através dos canais oficiais que as pessoas podem acessar as informações, entendendo que aquele conteúdo passou por um crivo, uma curadoria, é relevante para a jornada do empregado, além de contribuir com a transparência e diálogo.

Em muitas organizações a comunicação interna e os canais, tem um papel importantíssimo de informar e de abordar temas que muitas vezes as pessoas não teriam tanto contato, contribuindo para formação de repertório, debates, democratização de informação, sensibilização e letramento em relação a diversos assuntos.

Simplifica.CI – Na sua opinião, como o público interno pode contribuir na construção de uma reputação forte da marca. O que tem sido feito nesse sentido?

Fernanda Marques – O público interno é o primeiro a perceber o valor gerado por uma organização e é capaz de repercutir a todos os demais.

A percepção dos empregados é transmitida aos familiares, amigos, vizinhos, clientes, formadores de opinião que vão contribuindo com a formação de uma reputação forte.

O estilo de vida, os benefícios oferecidos, a saúde mental, as oportunidades de crescimento, tudo isso é percebido por quem está ao redor do empregado.

Assim, se há uma distância entre a imagem projetada por uma campanha de marketing, por exemplo, e a percepção interna, isso gera uma distorção.

Quem nunca escutou aquela famosa frase “escutei do fulano que trabalha lá dentro”.

Assim, compreendemos que a construção de uma reputação forte, passa consequentemente por uma gestão adequada, por estratégias e ações que possam ser percebidas em primeiro lugar pelo público interno.

Uma tendência que deve ser considerada é o investimento em influenciadores internos, que são aqueles empregados com grande potencial de inspiração em sua rede de contatos e redes sociais.

São aquelas pessoas que tem prestígio, que possuem boa influência em sua cidade, na área de atuação e nos seus círculos de convivência compartilhando suas vivências.

Na Mondelez Brasil por exemplo, temos os Mondelovers, que é exatamente um programa de embaixadores onde os empregados compartilham em suas redes sociais as novidades da companhia, nossas principais mensagens e, o principal, dão voz ao nosso propósito.

Fazemos uma campanha interna para selecionar aqueles que querem ser influenciadores de um tema ou de uma marca.

Eles recebem kits em primeira mão, compartilham suas percepções. Assim conseguimos trazer esse colaborador com alguém de verdade falando sobre uma mensagem relevante com seu toque especial.

Leia também: Comunicação interna que produz sentido – Suzel Figueiredo

Simplifica.CI – Qual a importância da construção de uma reputação forte pautada em diversidade e inclusão e como o profissional de comunicação tem endereçado esse tema para a alta liderança?

Fernanda Marques – A diversidade é uma realidade na sociedade. É importante que ela esteja refletida dentro das organizações.

A comunicação precisa estar junto com a alta liderança, construindo estratégias e implementando ações para dar visibilidade aos temas, auxiliar na percepção e na proposição de debates. É uma construção coletiva.

Recentemente a Mondelez Brasil alcançou o resultado de 50,2% de mulheres em posições de liderança. Uma situação ainda rara na indústria, que tem uma média bem m.

Temos fóruns específicos com as lideranças onde esses temas são tratados.

Desde encontros para introduzir alguns assuntos, desde traçar metas de inclusão de pessoas com deficiência, pessoas pretas e pardas, por exemplo, até estratégias para alcançar nossos objetivos.

Simplifica.CI – Qual o nível de interesse do empregado para assuntos institucionais no cenário atual das empresas? E como é possível que esse nível se intensifique cada vez mais?

Fernanda Marques – É nosso papel ajudar a ampliar o interesse dos empregados para os temas institucionais.

Adotamos algumas estratégias como traduzir os assuntos numa abordagem mais próxima da realidade do empregado, usando linguagem acessível e principalmente envolvendo as pessoas.

Percebemos que a maioria dos assuntos se torna mais atrativo quando as pessoas protagonizam e compartilham conteúdo.

Cada vez mais a comunicação deve ser colaborativa.

Percebemos aqui na Mondelez que, quando nossos colegas aparecem, se envolvem, o sentimento de pertencimento, o reconhecimento e a identificação acontece com muito mais eficiência.

Além disso, uma comunicação efetiva também deve levar em consideração uma estratégia de canais. Recentemente reformulamos essa estratégia e dobramos nossa audiência, Temos alcançado ótimos resultados.

Simplifica.CI – Atualmente, quais são os três assuntos mais relevantes do público interno na sua opinião?

Fernanda Marques – Frequentemente acompanhamos os dados de acesso dos conteúdos que publicamos e aqueles que despertam maior interesse estão relacionados a inovação, carreira e benefícios.

Chegamos a ter mais de mil cliques em conteúdo de inovação e o um conteúdo de benefícios, como GymPass foi o mais acessado no mundo!

Simplifica.CI – A comunicação interna consegue refinar sua estratégia com segmentação de públicos ou ainda trabalha na lógica de comunicação em massa? O que você considera avanços nessa área?

Fernanda Marques – A segmentação e personalização fazem parte,  cada vez mais, de um caminho para o sucesso.

Há sim, alguns conteúdos que ainda precisam serem “massificados”, mas frequentemente versionamos para cada audiência, entendendo o que é relevante para cada uma.

Veja que em uma grande empresa contamos com diversos públicos, de diversos lugares do país, tradições e hábitos.

Sendo assim, as vezes é necessário sim regionalizar a comunicação para que a conexão da informação com o interesse do público aconteça de forma mais orgânica.

Além disso, percebemos que a liderança tem papel essencial na comunicação.

Envolver os gestores e líderes da empresa para informar os seus times e compartilhar as comunicações de forma mais humana aumenta o alcance e interesse.

Leia também: A Comunicação Corporativa estratégica nas empresas – César Rua

Simplifica.CI – Como a curadoria de conteúdo e as editorias podem ser mais estratégicas na comunicação com o público interno?

Fernanda Marques – A curadoria precisa considerar alguns aspectos como entregar mensagens relacionadas à estratégia do negócio e ao interesse das pessoas.

Não chegaremos a um resultado positivo falando de temas que não são relevantes ou que estão desconectados com o que a organização deseja.

É importante também considerar o estilo e a forma.

Conteúdos duros, difíceis, longos, fazem a audiência perder rapidamente o interesse.

Simplifica.CI – Quais indicadores de resultado são importantes para uma comunicação interna estratégica e como é possível monitorá-los?

Fernanda Marques – Temos trabalhado no índice de engajamento interno, onde analisamos o índice de participação nos encontros, eventos, respostas a questões especificas das pesquisas de clima/engajamento, audiência e número de acesso de cada conteúdo e meio, dentre outros.

Precisamos medir se o esforço e recurso financeiro colocado na produção de certos conteúdos estão alcançando nossa audiência e influenciando sua percepção sobre a empresa e seu desejo de permanecer e contribuir com a organização.

Outro indicador que seguimos são nos grandes eventos onde uma grande população da empresa participa e fazemos isso por meio de pesquisas ao final de cada encontro.

O objetivo dessa ação é entender se o conteúdo ali apresentado foi entendido, se o formato da conversa foi efetivo e se as informações foram claras.

Simplifica.CI – Como o profissional de comunicação pode contribuir para que o líder assuma seu papel de comunicador nas organizações?

Fernanda Marques – Considero que este ainda é uma das maiores oportunidades para a Comunicação Interna nas organizações: atuar em conjunto com a liderança, influenciando e construindo valor para as pessoas.

Pesquisas apontam que as pessoas não deixam as organizações, elas deixam seus gestores.

Considerando este aspecto, precisamos instrumentalizar e apoiar esse gestor, a contar com ele para influenciar e inspirar as pessoas para serem as melhores versões de si mesmas, entregando bons resultados.

Todo resultado de uma organização vem através das pessoas, são elas que observam e percebem onde é necessário melhorar, onde estão as oportunidades os descolamentos e correções de rota.

Por isso é importante deixar claro para a liderança o que é esperado dela, investir em capacitações, ferramentas de apoio, feedback e reconhecimento dessas boas lideranças, por exemplo.

Comunicação interna é realmente estratégica e auxilia as organizações a alcançar seus objetivos, a se manterem vibrantes, vivas, conectadas, atentas às melhorias e resultados.